1Tm 1.19: "Conservando a fé, e a boa consciência, a qual alguns, rejeitando, fizeram naufrágio na fé.”
O texto em apreço deve ser entendido, hermeneuticamente, dentro das comportas do capítulo 1. Tentar imputar uma interpretação ignorando o contexto que antecede a referência acima é sem dúvida cair na declaração do versc. 7 “...mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.”.
Notemos que a 1ª epistola paulina a Timóteo tem acima de tudo um caráter pastoral. Paulo está solidificando o perfil de um autêntico pastor (sobre o qual houve inclusive a ordenação com imposição de mãos, 2Tm 1.6). Ao pastor cabe o cuidado do rebanho do Senhor a fim de que este não caia no abando da fé, denominado de apostasia. Para tanto, o apóstolo Paulo expõe três alicerces imprescindíveis: amor, e de uma boa consciência, e fé (1Tm 1.5).
Amor
Ao amor cabe a essência de todo o evangelho de Cristo. Deus nos amou (Jo 3.16); Cristo nos amou (1Jo 4.19), o Espírito Santo nos amou (Cl 1.8); e o amor é a fonte do crescimento fraterno na igreja (1Ts 3.12). Este amor (gr. Agape) somente pode ser concebido mediante o novo nascimento em Jesus, o qual produz a santificação e consequentemente a pureza de coração (1Pe 1.22).
Conforme a concordância King James, a palavra amor (ágape) ocorre 116 vezes no Novo Testamento, sendo a forma predominante o substantivo. Jesus deixa-nos evidenciado em sua Palavra que a marca indelével de nossa vida com Ele está interligada com o amor (Jo 13.35). Este amor flui para a igreja por intermédio do Espírito Santo sem medida e reservas (Rm 5.5). A manifestação deste amor à humanidade permite-nos perceber que suas raízes não se limitam a nada nesta vida de maneira que inexiste força natural, humana ou celeste, capaz de romper este atributo divino (Rm 8.35).
Para Paulo era imprescindível que Timóteo estivesse bem instruído sobre este amor. É pressuposto para o exercício do pastoreio do rebanho de Cristo o exercício pleno deste amor. É surpreendente como o apóstolo dos gentios declara a força deste atributo de Deus mediante as suas imensas aflições (2Co 2.4). Agora implantado no coração do pastor e da igreja, a operação do Senhor Jesus mediante o Espírito Santo torna-se mais eficaz (Gl 5.6).
Coração Puro
A pureza de coração é fator condicional para estar na presença de Deus (Mt 5.8), afinal o Eterno avalia fortemente as minucias do interior do homem em detrimento a seus aspectos externos, os quais muitas vezes são enganosos (1Sm 16.7). No plantel de advertências de Paulo a Timóteo, ele não deixa escapar a necessidade de manter a pureza do coração em detrimento aos desejos incontroláveis da mocidade (IITm 2.22).
Percebemos ao longo das Escrituras que a importância de um coração pura é basilar para a evolução da nossa vida com Deus. O exercício de uma fé fortalecida somente é possível quando nos desprovemos de tudo que possa manchar nossa alma como incredulidade, indisciplina, maldade, impurezas. A plena manifestação de nossa fé somente pode ser conquistada mediante a manutenção de um coração puro (Hb 10.22).
Consciência
Para compreensão da consciência é necessário lembrar que esta é uma faculdade do espírito humano, conforme a doutrina do homem (antropologia bíblica), ou seja, no âmago do espirito humano repousa sua consciência, a qual permite esclarecer quão benéficas/agressivas são suas ações perante Deus e perante seu próximo. Esta consciência é manchada quando erramos com o nosso próximo (1Co 8.12), pode ser cauterizada pela mentira (1Tm 4.2), promove bom testemunho diante do Espírito Santo (Rm 9.1).
Jamais o homem poderá desenvolver uma vida íntegra diante de Deus e de seu próximo caso sua consciência esteja aniquilada pelo pecado, hipocrisia e a maldade. Somente a Palavra de Deus é capaz de perscrutar o espírito humano (Hb 4.12), fazendo com que o homem reconheça sua condição falida e apática e mude de direção diante de um ato desprovido de amor ao próximo (Jo 8.9; At 24.16; Rm 9.1). Diante desta perspectiva, o homem agora regenerado em Cristo e vivendo uma nova vida transformada pelo Espírito pode buscar uma vida agradável a Deus mediante o cultivo da santidade e da sinceridade para com Deus (2Co 1.12).
Fé
E por fim a fé. Esta é a base da convivência em Deus. Sem fé ninguém pode agradar ao Eterno (Hb 11.6); a fé possibilita envolver-se com Deus (Hb 11.1); a fé possua uma contra-prova que são as obras (Tg 2.18), e possibilita a purificação do coração (At 15.9).
Analisando a sequencia do texto verificamos que Paulo faz aplicação das consequências caso cada um dos três alicerces sejam abandonados: ao abandono do amor resultará em contendas (1Tm 1.6); ao coração sem pureza promove o surgimento de mestres heréticos com ensinos fausos (1 Tm 1. 7-11); e ao abandono da fé implica o afastamento de Deus (1Tm 1.14-18).
Nos últimos versículos Paulo faz uma nova recomendação a Timóteo para manter a fé evitando a apostasia. Na oportunidade ele cita dois auxiliares dele que abandonaram a fé (veja a fé no sacrifício de Jesus por nosso pecado, não uma igreja ou um cargo) e por isso passaram pelo que a teologia denomina de disciplina (1Co 5.5).
Conclusão
Por isso, Paulo busca neste fim dar uma profunda reflexão sobre a importância de manter a fé em Cristo Jesus nosso Senhor e Salvador, cabendo aos incrédulos (aqueles que deixaram de acreditar no sacrifício de Jesus) a escolha de aceitar ser “usado” pelo inimigo por não estar mais sujeito ao poder salvívico do calvário.






Postar um comentário