sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Os dons espirituais e a necessidade de ordem nos cultos (1Co 14.1,39 e 40).

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Introdução

Nada chega a ser tão intrigante do ponto de vista espiritual do que o capítulo 14 deste livro. A análise isolada de trechos deste capítulo tem levado muitas igrejas a proibirem a manifestação sobrenatural do dom de língua sob a bandeira da necessidade de ordem no culto.

Figura 1


Alguns há que nem mesmo ousam entrar neste campo, pois o ensinamento paulino é bastante doutrinário e apenas uma boa teologia bíblica moverá de modo saudável tamanho ensinamento.

Trataremos nesta oportunidade de um dos principais temas que regem a ordem e a legitimidade do uso de dons durante um culto.

1. DUAS ORDENS E UM CONSELHO (v.1).

Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar”.

Seguir - andar no mesmo ritmo de; continuar na marcha iniciada; acompanhar com atenção.

Figura 2
Procurar – ir em direção a ou ser atraído por; executar as ações necessárias para encontrar ou descobrir.

Diante destas descrições verificamos que o amor não há opção de escolha. Seguir o amor fala de um ato obrigatório sem o qual não há evangelho. Por outro lado, procurar dons resulta em inclinação, desejo de ser dotado de ferramenta sobrenatural. Esta realidade é completada pelo termo “zelo” que engloba cuidado e preocupação na busca de algo. Realmente, dom espiritual é acima de tudo busca intensa, constante e devota diante de Deus!

Entre os dons espirituais existentes Paulo recomendada a busca pelo dom de profecia. Por quê? O motivo que levou Paulo a utilizar desta recomendação é claramente explicado no versículo 2 “Porque o que fala língua {estranha} não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém {o} entende, e em espírito fala de mistérios.” Aqui Paulo externa sua preocupação com o “corpo” e não com o “membro” do corpo. Paulo vislumbrava a edificação da igreja (visão pastoral) e não a edificação de uma pessoa.

2. EDIFICAÇÃO DA IGREJA: ALVO MÁXIMO DO DOM ESPIRITUAL (v.4-12).

Paulo deixa claro aos leitores da carta que seu foco no capítulo 14 é a igreja. Isto é bem definido no verso 1, discutido anteriormente. No verso 4 Paulo distingue claramente o alcance da edificação pelo uso de dois dons diferentes. Um (línguas estranhas) edifica o indivíduo; o outro (profecia) edifica toda igreja. Paulo não condena o falar em línguas, mas expressa a perspectiva pastoral que resulta da necessidade de edificar o corpo de Cristo. Deixemos a bíblia falar por si e vermos o seguinte: “E eu quero que todos vós faleis línguas {estranhas;}” (v.5); o apóstolo dos gentios demonstra abertamente o seu desejo pela proliferação deste dom. Entretanto, há um forte desejo pelo dom de profecia.

3. HÁ HIERAQUIA DE DONS ESPIRITUAIS? (v.5)

Observemos o texto em questão: “porque o que profetiza é maior do que o que fala línguas {estranhas,} a não ser que também interprete, para que a igreja receba edificação.” (v.5). Para muitos teólogos o texto em apreço declara a superioridade do dom de profecia sobre os demais dons. O melhor dom na perspectiva de Paulo (1 Co 12.31; 1 Co 14.1) é simplesmente direcionado à edificação da igreja. Prova disto é o descrito no final do verso 5. Não podemos tirar de foco o objetivo do capítulo 14: ordem no culto. Quem busca a própria edificação deve fazê-lo na própria vida devocional em seu lar, por exemplo; e que seja dada ênfase para dons que possam edificar o corpo de Cristo nas reuniões coletivas. Para evidenciar esta realidade Paulo usa figuras conhecidas da igreja como o som de instrumentos (v.7-9), dos diferentes idiomas do mundo (v.10-11).

4. ORAÇÃO COM ESPÍRITO E ORAÇÃO COM ENTENDIMENTO (v. 15)

Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.”

Figura 3.
Por que há esta distinção? Na doutrina do homem é comprovado que o componente existente na constituição humana que nos permite conceber a existência de Deus e comunicar-se com Ele é o espírito (Gn 2.7; Lc 1.47; Jo 6.63; 1 Co 2.12). Mas qual a linguagem do espírito? Paulo mesmo apresenta a manifestação da língua estranha com de propriedade do espírito do homem (v.14), a qual não é compreendida pelo entendimento (raciocínio) do homem, faculdade da alma. Paulo apresenta-nos o Don de falar em outras línguas como uma evidência do poder de Deus, mas de compreensão limitada ao espírito do homem e o Espírito de Deus (v.16 - 26). Imagine a seguinte situação: um culto evangelístico com vários visitantes, cantam-se os hinos da harpa em línguas estranhas, é feita a leitura bíblica e em seguida a oração que a cada dez palavras oito são em línguas estranhas. Segue o culto e começa a pregação. A cada dez palavras proferidas sete são em línguas estranhas.
Quantos de nós mesmos entenderemos o culto? E os infiéis? Por causa disto, e tão somente isto, Paulo recomenda: “E, se alguém falar língua {estranha, faça-se isso} por dois ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete.”(v.27). Paulo não proíbe o falar em línguas na igreja, mas para fins de edificação “se não houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus.” (v.28). Mesmo as profecias precisam de ordem no culto “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (v.29); por isso que quando houver profecia na igreja toda o corpo de Cristo, exceto o profeta, deve ficar em silêncio para ouvir e “julgar” a profecia pela Palavra de Deus.

5. O ESPÍRITO E A SUJEIÇÃO

A final o Espírito Santo está sujeito ao profeta? Não! O texto declara: “E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.” (v.32). Por esta frase muitos tem colocado os profetas no status da própria Trindade Santa. Não ignoremos o verso anterior “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados.” (v.31). Com isto Paulo afirma que é possível ter ordem no culto por que o espírito do profeta (humano) é sujeito ao profeta. Profeta exerça o domínio sobre o teu espírito e promova a ordem no culto. Afinal o nosso Deus não faz confusão! (v.33).

CONCLUSÃO

Por isso igreja tenha-se ordem no culto. Devemos procurar intensamente o dom de profetizar e não devemos proibir o falar em língua! (v.39).

Referências de imagem
Figura 1. http://www.chegouahora.org/wp-content/uploads/2010/10/O-Dom-de-Prof.jpg

Figura 2. http://blog.cancaonova.com/paulovictor/files/2009/07/19059301.jpg
Figura 3. http://www.formulados.com.br/v2/wp-content/uploads/2009/09/tricotomia.png



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